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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A TRILHA DE NAUFRAGADOS PEDE SOCORRO!


O grupo Trilheiros de Atitude faz um alerta frente às diferentes formas de degradação que a trilha ecológica de Naufragados vem sofrendo.

Todo trabalho teve início com o estudo da trilha de Naufragados, onde em visitas realizadas pelo grupo de educandos da turma 2 do PROJOVEM Urbano, foi possível conhecer os diferentes ecossistemas, sua fauna, flora e suas interações. Bem como realizar um breve levantamento da situação da trilha de Naufragados. Sendo que é importante salientar que a trilha de Naufragados, além de tradicional contendo um cunho histórico importante, compor um fragmento da Mata Atlântica que poder ser observada, estudada em uma agradável caminhada, também está inserida numa superposição de três esferas jurídicas. Pois é um Logradouro Público (de livre acesso a comunidade), que inicia em propriedades particulares, parte passa pelo Parque Estadual Serra do Tabuleiro, e ao final passa a APA de Proteção do Entorno Costeiro. Esta ultima esfera criada recentemente numa aparente tentativa de resolver uma questão social, gerada com criação do Parque devido à desapropriação de moradores nativos, assegurados juridicamente pela Legislação Brasileira, situação que ainda está em andamento.

 Através da interrogativa: "É possível explorar as trilhas ecológicas visando sua preservação e conservação do ambiente natural?" Iniciou-se o debate sobre a problemática ambiental ampliando do micro para o macro. Tendo como referência a trilha de Naufragados, e as trilhas que iniciam na Cachoeira do Bom Jesus, sendo finalizada na entrada da Praia Brava, ao norte da Ilha de Santa Catarina/SC. Culminando na produção de um vídeo que abordará o impacto ambiental causado por trilheiros e comunidades nativas nas trilhas citadas e buscando também apontar soluções para sua utilização de forma que ocorra sua preservação e conservação.
 Ao final de quatro visitas (do mês de janeiro a agosto de 2010), sendo uma delas acompanhada pela equipe Unidade de Gestão do Parque da Serra do Tabuleiro da FATMA (Fundação do Meio Ambiente), Eduardo M. e Alair de Souza. Concluímos que a trilha de Naufragados não foi estruturada de forma técnica, e continua atualmente inadequada. Um dos principais indícios é a erosão do solo, em todo seu percurso observamos muitas voçorocas, devido à lixiviação do solo pelas águas das chuvas, deixando até mesmos as raízes das árvores de grande porte desnudas. Também encontramos uma grande quantidade de lixos tais como: garrafas pets, tocos de cigarros, variados tipos de plásticos, roupas, calçados, material de construções, restos de demolição, vidros. Observamos muitos espaços ocupados por campistas que não recolheram seu lixo, trechos com processo de queimada. Outro dado importante observado foi a dispersão de várias espécies de plantas exóticas invasoras, e também a existência de desmatamento irregular da mata. Como mostra as fotos no mosaico abaixo. 
Fig 01: Primeira foto mostra a situação do solo, seguida de foto mostrando lixos exposto. Logo abaixo o corte da vegetação na foto central.
Lembrando que percorrer a trilha de naufragados é navegar um fragmento da Mata Atlântica composta por uma imensa biodiversidade da fauna e flora, diferentes formas de relevo, paisagens, características climáticas diversas e a multiplicidade cultural da população configuram essa imensa faixa territorial do Brasil que interagem entre si. Tendo início no Rio Grande do Sul até o Piauí, ao todo, são 1.300.000 km², ou cerca de 15% do território nacional, englobando 17 estados brasileiros, atingindo até o Paraguai e a Argentina. Classificada como um conjunto de fisionomias e formações florestais, a Mata Atlântica se distribui em faixas litorâneas, florestas de baixada, matas interioranas e campos de altitude. Somado à magnitude destes números, outro dado modifica a percepção sobre a imensidão desse bioma: cerca de 93% da sua formação original já foi e continua sendo devastada. O qual na execução do Projeto trilhas o grupo confere na integra, nas diferentes formas acima citado.
    Ao percorrer a trilha de Naufragados podemos observar que esta mata parece estar estruturada em camadas, onde em cada uma destas pode ser um habitat específico para determinadas plantas e animais. Os troncos das árvores mais altas tocam-se umas nas outras, formando uma massa de folhas e galhos.
Fig. 02 – Mosaico de fotos da trilha de Naufragados, onde observamos formação do dossel. Presença de bromélias e cipós (foto esquerda).
Esta parte vem a ser a camada superior, conhecida também como dossel. É onde também encontramos várias outras espécies de plantas, tais como cipós, bromélias e orquídeas, que necessitam de uma maior quantidade de luz (fig. 02).
O sub-bosque parte mais baixa, composto arbustos e pequenas árvores tais como bambus, samambaias gigantes (xaxins), liquens, abrigam numerosas epífitas, gravatás, bromélias, orquídeas, musgos e liquens, samambaias, begônias e lírios Espécies que toleram menos quantidade de luz. A maioria das espécies de aves ocupa essa camada da floresta.

Fig. 04. Formação do sub-bosque.
 É importante ressaltar que as folhas que caem das árvores, os galhos secos que se desprendem e os troncos das árvores que morrem vão se acumulando no chão da floresta e criando um ambiente muito especial, que se constitui no hábitat para muitos animais e microorganismos, como fungos e bactérias, que são os principais responsáveis pelo processo de decomposição de toda esta matéria morta, que são transformados em nutrientes usados no crescimento das próprias árvores e outras plantas. Esta recebe o nome de serapilheira, que possui a importante função de proteger o solo da floresta: evita a erosão e mantém a umidade. O solo úmido absorve melhor a água das chuvas, o que torna possível a recarga do lençol freático, evitando que as nascentes sequem. E é nesta camada que certas espécies de répteis e anfíbios (ver fotos acima).
Pela extensão que ocupa do território brasileiro, a Mata Atlântica apresenta um conjunto de ecossistemas com processos ecológicos interligados. As formações do bioma são as florestas Ombrófila Densa, Ombrófila Mista (mata de araucárias), Estacional Semidecidual e Estacional Decidual e os ecossistemas associados como manguezais, restingas, brejos interioranos, campos de altitude e ilhas costeiras e oceânicas. Um exemplo da relação entre os ecossistemas é a conexão entre a restinga e a floresta, caracterizada pelo trânsito de animais, o fluxo de genes da fauna e flora, e as áreas onde os ambientes se encontram e vão gradativamente se transformando - a chamada transição ecológica, muito bem observada pelo grupo.
    Outra informação que é pertinente, também observada pelo grupo Trilheiros de Atitude, no entorno da trilha de Naufragados é a questão social das ocupações da terra, de forma desordenada, muitos casos juridicamente ilegal. Lembrando que esta trilha é considerada um logradouro público dando acesso a praia de Naufragados, é evidente a ocupação das terras, especialmente nos locais sem cuidado ou fiscalização. No entanto, na ponta sul da ilha a qual nos referimos existe uma história de ocupação dos moradores nativos devido às atividades econômicas tradicionais que envolvem a pesca, o plantio de cana-de-açucar e mandioca, bem como de seu beneficiamento (antigos engenhos). Os quais são segurados pela Legislação Brasileira, no entanto os mesmos estão em descompasso.
Tendo em vista que ao final da trilha encontramos uma paisagem natural de umas das praias mais procurados da ponta sul da Ilha de Santa Catarina. Portanto, no decorrer da caminhada entre a mata em regeneração observamos ruínas de casas e de antigos engenhos ainda cercados por pomares, antigas plantações no final do caminho levam à Ponta do Farol da Barra do Sul, em área ocupada pelo Ministério do Exército, onde podem ser visitados canhões instalados nas primeiras décadas do século XX. Da Ponta do Farol podem-se observar as ruínas da Fortaleza da Ilha de Araçatuba (Fortaleza Nossa Senhora da Conceição). Bem como observamos outras entradas para outras trilhas como a que da acesso à Praia da Solidão, ou Praia do Rio das Pacas, cruzando o Morro do Córrego dos Naufragados e percorrendo a costa sudeste da Ilha, passando ainda pela Ponta do Pasto, Saco da Baleia, Ponta do Saquinho e Praia do Saquinho, indo alcançar o Rio das Pacas no início da vertente do Morro do Trombudo. Durante este percurso pode-se avistar as Ilhas Três Irmãs. Assim como também possibilita a observação das tartarugas marinhas, avistadas em duas das vistas pelo grupo Trilheiros de Atitude no período de janeiro e fevereiro de 2010.
    Vale lembrar que a ponta sul da Ilha de Santa Catarina compõe o cenário das regiões inseridas no mapa da Mata atlântica onde vivem também 62% da população brasileira, cerca de 110 milhões de pessoas. Um contingente populacional enorme que depende da conservação dos remanescentes de Mata Atlântica para a garantia do abastecimento de água, a regulação do clima, a fertilidade do solo, entre outros serviços ambientais. Obviamente, a maior ameaça ao já precário equilíbrio da biodiversidade é justamente a ação humana e a pressão da sua ocupação e os impactos de suas atividades. Para tanto é necessário buscar alternativas que possibilitem um equilíbrio na vivencia entres os seres vivos.
Outro detalhe importante que observamos é a existência de várias bicas, assim como do rio Córrego dos Naufros que é muito visitado. Sendo assim, contribuindo na proteção deste fragmento de mata é estarem contribuindo na preservação de sete das nove maiores bacias hidrográficas brasileiras neste bioma. Protegendo também os processos hidrológicos responsáveis pela quantidade e qualidade da água potável para cerca de 3,4 mil municípios, e para os mais diversos setores da economia nacional como a agricultura, a pesca, a indústria, o turismo e a geração de energia. Os rios e lagos da Mata Atlântica abrigam ainda ricos ecossistemas aquáticos, grandes parte deles ameaçados pelo desmatamento das matas ciliares e conseqüente assoreamento dos mananciais, pela poluição da água, e pela construção de represas sem os devidos cuidados ambientais. Essa intrincada rede de bacias é formada por rios de importância nacional e regional, do São Francisco e Paraná, ao Tietê, Paraíba do Sul, Doce e Ribeira do Iguape.
     Fig. 04: Abundancia das águas no decorrer do percurso.
Também foi identificada a existência da inserção de várias espécies exótica invasoras na trilha de Naufragados. Sobre as espécies exóticas invasoras identificadas nas saídas a campo é importante salientar que a Resolução CONABIO n.o 5 de 21 de outubro de 2009, dispõe que são consideradas, atualmente, a segunda maior causa de perda de biodiversidade, e que com a crescente globalização, a ampliação das vias de transporte, o incremento do comércio e do turismo internacional, aliado às mudanças no uso da terra, das águas e às mudanças climáticas decorrentes do efeito estufa, tendem a ampliar significativamente as oportunidades e os processos de introdução e de expansão de espécies exóticas invasoras nos diferentes biomas brasileiro. Sendo que estão assumindo no Brasil grande significado como ameaça real à biodiversidade, aos recursos genéticos e à saúde humana, ameaçando a integridade e o equilíbrio dessas áreas, e causando mudanças, inclusive, nas características naturais das paisagens. As espécies identificadas são o sisal, Agave sisalana, a zebrina, Tradescantia zebrina. Outra ameaça ao equilíbrio destes ecossistemas são as queimadas ocasionadas pelos campistas desavisados, e descuidados que além de deixarem todo seu lixo, também deixam brasas acessas.
Contudo, o Grupo Trilheiros de Atitude concluiu a primeira parte de seu trabalho de estudo através da identificação e levantamento da situação da trilha de Naufragados, a qual não foi estruturada de forma técnica, e continua atualmente inadequada. O grupo de educandos também realizou visita técnica as trilha que iniciam na Cachoeira do Bom Jesus, sendo finalizada na entrada da Praia Brava, ao norte da Ilha de Santa Catarina/SC, as quais apresentam o mesmo cenário preocupante entre a beleza da paisagem, da biodiversidade da fauna e flora e o descuido por parte da sociedade. Portanto perante este cenário está tendo como atitude buscar um dialogo frente às Instituições envolvidas, e responsáveis, bem como buscando respostas e alternativas para juntamente com a comunidade do entorno abrindo uma discussão sobre a situação através da interrogativa: "É possível explorar as trilhas ecológicas visando sua preservação e conservação?"

Mariléia Sauer
Educadora de Ciências da Natureza
PROJOVEM Urbano- Florianópolis